DRAGOSCÓPIO
Agora é o Caos; no princípio era apenas uma pequena confusão
quinta-feira, abril 18, 2024
Panaceia veterinária
99.9%, ou Da única Pinoquiarquia do Médio oriente
Ao melhor estilo do Bagdad Bob e do Carraça do Oxidente, aka Anão Zalento, os Faz-de-Judeus assanhados não pretendem deixar os seus descréditos por mãos alheias. Já não é apenas de opróbrio que se cobrem: é, ainda mais, de ridículo.
terça-feira, abril 16, 2024
Estratégia versus histerotégia
Adenda:
1. Fanfarroneiam, os tampinhas, que abateram 99%. Só? Mas agora viciaram-se na modéstia? Quando os ucraniões, em cada vinte mísseis do Urso, abatem 25 e maltratam quase outros tantos, estes agora dá-lhes para a humildade!... 250%, que raio. No mínimo! Os que foram lançados e outros tantos que eles foram aniquilar ainda nos silos de lançamento. Já não falando do sistema de defesa anti-míssil de ponta - aliás, de penca - por voodu.
2. Vão retaliar? Claro que vão. É mais forte do que eles. No mínimo, vai ser coisa para 300.000 palestinianos. Só no primeiro mês. E mais uns actos de terrorismo avulso, que é a droga a que estão agarrados desde o início.
3. Podem retaliar com armas nucleares? Do que dependesse deles era já prá semana. O problema é que o Irão é demasiado grande; e eles são demasiado pequenos. E também olimpicamente cobardes. Muito provavelmente, recorrem a uma bomba suja, que tratam de plantar em Teerão, ou coisa que o valha, e depois, com atávica chutzpah e a Bênção oxidental, ainda acusam os persas de terem causado a catástrofe por negligência no manuseio de materiais radioactivos com intuitos furtivos de fabricarem uma arma nuclear. Condenação internacional garantida.
4. O novo lema do Estado de Israel: "Agarrem-me senão eu desgraço-me!!
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domingo, abril 14, 2024
quinta-feira, abril 11, 2024
Bizarrias no palramento
Frases fortes do mais recente último-ministro do rectângulo:
1. "Vamos cumprir Abril!"
- Só? Contávamos que ficassem pelo menos até Junho...
2. "Nós não somos uma aventura!"
- Pois não. O caso, por enquanto, é mais da ordem da auto-estimulação solitária.
3. "Como escreveu Saramago..."
- Citar Saramago gera sempre uma (legítima e candente) angústia operativa ao aficionado: De caras? Ou de cernelha?
segunda-feira, abril 08, 2024
Colonoscopia cultural, ou A Zappar desde 1984
Por falar em wokismo e cancelamentos...
Ainda falta muito para cancelarem este gajo nos States (e respectivos satélites de trazer por trela)?... Andam distraídos, os purritanos!...
Prestem bem atenção às letras: duma actualidade chispante. Mais politicamente incorrecto seria difícil. Thing Fish, um triplo lançado em 1984, pasme-se. Ou então não.
Etnopatia paranóide
Hubris, a receita universal para o desastre.
Uma ladainha milenar de pacotilha, regurgitada ad nausea por judeus postiços. É como a tanga do antixemita de alguidar. Para engodar acéfalos e amedrontar parolos.
domingo, abril 07, 2024
A Minha Odisseia - I. O primeiro dia
«Não é apenas, ocasionalmente, que atrás dum grande homem está uma grande mulher. É sempre: atrás de qualquer homem está uma mulher: aquela que o pôs no mundo. Maior exemplo de amor, valor e coragem não se conhece."
A minha digníssima mãe, Deus a tenha e recompense, como já aqui referi, transportou-me dentro dela 9 meses e, mal eu saí cá para fora, tomou a minha educação a seu cargo. Aliás, em vez duma mãe mimadora e apaparicante, graças a Deus, a mim calhou-me em sorte uma mãe instrutora, cuja ocupação sagrada e principal era fazer de mim um homem. E desde pequenino!... De tal ordem que, quando, pelos meus seis anos, me foi depositar à escola, eu já ia educado. E não apenas educado: instruído em boa medida. Os rudimentos de ler, escrever, contar, assinatura, rubrica, caligrafia, tudo isso, já ela me ministrara. Mas isso era apenas a ponta do icebergue: um aparato nada despiciendo da História de Portugal também já me equipava as tenras meninges. Desde a devoção a Nuno Álvares Pereira, à espada pesadíssima do Fundador, aos dentes do Decepado, até aos domadores do Cabo das Tormentas e ao vencedor do Gungunhana, passando pelos milagres da Rainha Isabel e os expedientes da padeira de Aljubarrota, com um pincelada alógena à epopeia de Joana d'Arc, constituíam já a minha armadura mental no dia, dum Outubro qualquer, em que penetrei, pela primeira vez, os umbrais do estabelecimento público de ensino - uma daquelas escolas primárias monumentais e típicas do Estado Novo, meninos dum lado, meninas do outro. Na véspera, fora mesmo armado cavaleiro, com o seguinte e solene imperativo categórico: "não te metes com ninguém, respeitas toda a gente, mas se alguém se meter contigo, defendes-te, ouviste?! Livra-te de voltares para casa com queixinhas que te bateram: apanhas ainda mais!" A minha mãe, convém assinalar, era transmontana. Mas isso não era o mais terrível: o pior é que a mãe dela também era. E munida dum vocabulário camiliano que muito me fascinava, bem como de um feitio de antes quebrar que torcer - viúva, criara cinco filhos, em batalha vitoriosa contra toda uma aldeia de semi-ciclopes. Para reforço da filha e por via das dúvidas, também ela, de visita à barbárie da capital, me crismou, em missa Te Deum, com o seguinte preceito civico": "Se algum bandalho te quiser bater, não prometes: dás-lhe logo; mas não é com a mão, pegas num pau e dás-lhe com ele pelos cornos abaixo!" Importa ainda referir que boa parte da minha educação religiosa, praguejante e nobiliárquica (os pergaminhos da família), fora ela a transmitir-mos.
Armado, então, destes belos princípios (que guardo e mantenho religiosamente até aos dias de hoje e, estou determinado a manter até à hora da minha morte), lá segui, pois, a minha mãe até à escola. Naquele tempo obscuro, as mães, pelo menos a minha, pilotavam-nos no primeiro dia, de modo a ensinar a rota, mas depois era connosco: passávamos a arrostar sozinhos (ou em bandos) todos os perigos da travessia (que ainda eram alguns). Além da não chorar, um homem, por muito minúsculo que fosse, não tinha medo. Era gente rude e muito pouco delicada, a daquela época. Enquanto seguia nessa viagem inaugural, meditava, intrigado, sobre uma questão operativa deveras perturbante: se ia para uma iminente refrega, para que raio me servia aquela bata branca - ia ingressar no corpo médico? Que vergonha, que descrédito, que desinteresse! A glória está em causar hemorragias, não em contê-las. De bem melhor dignidade (e vantagem) seria uma armadura e capacete, com espada ou maça de armas a condizer. Ainda tentei levar o arco, mas a severa progenitora impôs-me, em descompensação, a caneta de tinta permanente (era-me de todo inútil na primeira classe, mas ela devia achar que as armas não se portam por utilidade ou interesse, mas por princípio). Enfim, não sei o que os outros fedelhos iam fazer à escola, provavelmente aprender a ler e a escrever. Eu, em contrapartida, lembro-me bem, ia para me bater em defesa da honra da Pátria e da minha família. Só depois de bem salvaguardada estas, estaria a minha própria reputação garantida. Firmemente disposto, assim, a não me desonrar e, comigo, a família e a Pátria, despedi-me da minha mãe e acometi os portões daquele Adamastor. De relance, fitei o céu, semi-encoberto, donde Nuno Álvares, Afonso Henriques, Vasco da Gama, Ulisses e a padeira de Aljubarrota me vigiavam, solenes e perscrutantes.
Só depois de todos estes cuidados soberanos, dirigi os olhos para os meus futuros colegas. Estavam também todos vestidos com bata idêntica, o que me transportou a sombrias confabulações e desencantos. Ameaçava-me um tugúrio de enfermagem, quando o que eu aspirava era uma escola militar!... Só então, provavelmente enviada pelos meus mentores e tutores celestes, me ocorreu uma ideia redentora: lembrei-me que também os homens do talho e açougueiros em geral trajavam uma bata semelhante. Animou-se-me o espírito e desassombrou-se-me o futuro... Entendia agora da utilidade e funcionalidade da bata: era para não sujarmos a roupa com o sangue do inimigo. Muito poupadas e previdentes, as mães do antigamente!...
Querem que vos conte a lúcida dedução que retirei do meu estudo daquela fauna durante a semana seguinte? Fica para o próximo capítulo. Mas posso ir já adiantando o essencial: falavam um dialecto abstruso, onde a estridência e a asneira colidiam em caótica competição; corriam sem sentido e manifestavam-se sem quaisquer noções da missão sagrada dum português no mundo. Apenas num ponto - melhor dizendo, num objecto - não me eram totalmente estranhos: a bola. Mas essa era, naturalmente, a excepção à regra. Pelo que, após aturada, discreta e distante observação, extraí o seguinte dogma empírico: eu estava confinado, durante o horário escolar, e sobretudo durante o recreio, a uma caverna de mini-ciclopes. Foi então que, por um qualquer processo misterioso, senti que Ulisses já não estava no céu, com os Outros, a vigiar-me: estava dentro de mim. A dar-me força...e argúcia subtil. Claro que nunca o contei a ninguém, muito menos à minha avó. Duvido muito que Odisseus apreciasse ser despromovido a Anjo da Guarda.
sexta-feira, abril 05, 2024
Metamorfose ou transfiguração?
DISTO:
PARAISTO:
quarta-feira, abril 03, 2024
As Lágrimas de Ulisses
«Ali, pois, estava deitado o Argo, todo comido de piolhos. Como reconhecesse Ulisses, agitou a cauda e baixou as orelhas; mas já não tinha forças para se aproximar do seu senhor. Ulisses notou isto; e, voltando a cabeça, enxugou uma lágrima (...) Nesse momento, a morte apoderou-se de Argo, que tinha visto, há pouco, Ulisses.»
segunda-feira, abril 01, 2024
Esperança e Nostalgia (através do Labirinto)
Mas a viagem de Ulisses é sobretudo simbólica: a odisseia significa e profetiza todas as odisseias (desde a vida humana às aventuras cósmicas de cada povo). Funciona como uma espécie de metacartografia íntima da existência. O próprio cristianismo, na figura do seu Fundador, cumpre a odisseia: oriundos de Deus, a Ele devemos regressar. É o próprio Deus que abre o caminho, dando o exemplo. A Fé, que Jesus nos revela e disponibiliza, é a confiança num regresso a casa - é o fio (o con-fiar) do sentido que nos permite vencer o labirinto. Só que este, doravante, como mar da alma humana, tão inçado de abismos, monstros e perigos quanto o mar de Ulisses. A saída, não obstante, coincide com a entrada: a morte e o nascimento apenas prenunciam a perfeição do círculo... A eternidade, onde tempo e espaço se geminam e perpetuam.
O fio da Fé é também o fio de Penélope e da Moira que tece: Penélope que aguarda, o Destino que concede e a Fé que conduz. A partida, a viagem, o regresso. Os gregos chamavam "nostos" à volta, ao caminho de regresso; e "algos" à dor. A Fé de Ulisses é a de todos nós: a saudade de casa. A Fé é uma nostalgia, como a nostalgia é o anseio excruciante, doloroso de voltar à pátria. Não se explica: sente-se. Bem entendido, a Ítaca de Cristo é o Céu.
Entretanto, também o ponto de partida anseia pelo regresso daquele que partiu: move-o por atracção, quer dizer, move-o à distância, ao longe, pelo coração - como o Deus de Aristóteles faz mover o cosmos. A suprema felicidade coincide assim com a extrema gravidade. É a mais séria das seriedades. Jesus chama-lhe amor, como já Aristóteles tinha chamado. O mesmo amor que compele Ulisses: amor à mulher, aos filhos, aos pais, à Ítaca onde reinou e voltará a reinar. Antigamente, isto tinha um nome síntese: amor à Pátria. Por outro lado, Ítaca não é Ítaca sem Ulisses; Ulisses não é completamente Ulisses sem Ítaca. A Esperança e a Nostalgia espelham-se no fazer e desfazer das noites e dias, como no tecer e destecer do tapete de Penélope. Falta Ulisses a Ítaca, tomada pela ilegitimidade e a delapidação dos pretendentes - o falsos candidatos à pretensa eleição duma Penélope desamparada. Penélope que, ao contrário de Clitemnestra, se mantém fiel - nunca perde a fidelitas nem o fio. No fundo, pressente-se a ponta desse mesmo novelo que conduzirá, nalgum dia, Ulisses até ao desenlace final - onde a Esperança e a Nostalgia se reencontram e se curam mutuamente. Ulisses também significa o portador da cicatriz e o que cicatriza; ele, o herói, que, para lá da aparência, se identifica através da cicatriz. Como Cristo mostrará as cicatrizes a Tomé. .
Mas se Penélope tem o fio, Ulisses opera um outro instrumento essencial à viagem, à náutica: o leme da nau. Ulisses é o chefe e o piloto da expedição. Cybernos, diz-se, no grego clássico. A direcção e orientação da nave é o seu mister e a sua excelência. Na realidade primeira e original, um cybernautes - o cybernos da naos. Através de Cyla e Caribdis, do Canto das Sereias, da suinicultura de Circe, do matadouro de Polifemo, de praias e naufrágios, e até da Olissipo dum miúdo excêntrico de milénios adiante, Ulisses terá alguma vez perdido o rumo, mas nunca perdeu o fio nem o fito. E num dia perfeito como só as histórias reais alcançam, desembarcou mendigo no mesmo lugar donde outrora partira rei. Todavia, sob a máscara do tempo e da viagem, trazia consigo, intacta, a força da autenticidade e o cybernos que a Ítaca faltava. Uma Ítaca que, finalmente, recuperado o seu chefe e piloto, podia levantar âncora e zarpar pela Eternidade. Onde eu, pelos meus oito anos, juro, a vi passar.
Agora a chave: Sabem qual é a palavra que no português, na língua que nos resta, traduz e materializa, ainda hoje, integralmente, e apenas aí, cybernos?
- Governo.
PS: O que distingue o Mito da História é que aquele nunca perde a actualidade nem a autenticidade. A História trata da encadernação de versões de relatos; o Mito trata da verdade eterna. E tanto assim é que ainda hoje, nós, portugueses derradeiros, experimentamos uma "Ítaca" tomada pela ruína e devassidão de pretendentes, por via da ausência do Cybernos autêntico. Lá está, porque também, ao contrário da História, que passa, o Mito permanece. E permanece vivo. Quanto ao essencial, aprendi com o Moreira: nunca desistir, nunca perder a fé. E nisso, proclamo ao mundo, venceu-me: era mais valente do que eu. Eu era apenas mais forte.
sábado, março 30, 2024
A Passagem da vida
« (...) a prática cristã, uma vida como a viveu aquele que morreu na cruz, apenas isso é cristão... Uma tal vida é, hoje ainda, possível, e para alguns necessária: o cristianismo autêntico, o cristianismo primitivo, será possível em não importa qual época... Não uma crença, mas um fazer, acima de tudo muitas coisas a não fazer, um modo diferente de ser. (...)
A vida do redentor nada mais foi que essa prática - a sua morte nada mais foi também que ela... Não necessitava já de qualquer fórmula ou qualquer rito nas suas relações com Deus - nem sequer a oração. Liquidou as contas de toda a doutrina judaica da penitência e da reconciliação; reconhece que é unicamente a prática da vida que permite o sentir-se "divino", "bem aventurado", "evangélico", sentir-se a cada instante "filho de Deus". Nem a penitência, nem a "prece pela remissão" constituem caminhos para Deus: só a prática evangélica conduz a Deus; ela, justamente, é "Deus"! - O que já não estava em circulação depois do Evangelho era o judaísmo das noções de "pecado", "remissão dos pecados", "fé" - toda a totalidade dos ensinamentos da igreja judaica era negada na "boa nova".O profundo instinto do modo como se deve viver para o homem se sentir "no céu", para se sentir "eterno", enquanto que qualquer outro comportamento o impede de se sentir "no céu": é essa a única realidade psicológica da "redenção". - Uma conduta nova, não uma nova crença...»
- Fredrisch Nietzsche
À maneira dele, muito pouco linear, nem sempre sensata, Nietzsche também, lá bem no fundo e na essência, era religiosamente aristotélico. Quer dizer, entendia o Bem, no caso humano, como um agir, uma forma de ser na vida. Não uma estrita crença, mas uma ética plena. Aristóteles vislumbrava na contemplação - a acção pura, "divina" - a forma mais nobre da felicidade humana; Nietzsche, na senda de Shopenhauer, equiparou essa mesma felicidade contemplativa à Arte. Talvez porque esta demandasse, por assim dizer, um nível excelente da própria beleza: o sublime. Convém, para o caso, ponderar o seguinte: o entendimento (mai-la sua excrescência, a razão) impedem-nos de apreciar a aceder a esse mesmo grau magnífico da Filosofia ou da Arte. Que, a limite, tem um nome: Deus. Atinge-se apenas enquanto antes do entendimento, na sensibilidade (e aí, a Arte), ou para lá do entendimento, na inteligência (e aí, a Filosofia).
Quando entramos numa catedral ou escutamos a música de J.S.Bach sentimos - pelo menos aqueles dotados de sensibilidade para isso - Deus. Uma emoção ou comoção profundas, pungentes, inexplicáveis. Sendo certo e evidente, todavia, uma coisa: foi por uma acção humana, de arquitectura e música, que se abriu essa passagem, essa ponte. Um ser capaz desse prodígio não está só; nem temos o direito de nele perder a Esperança.
Por um instante, em certas passagens sublimes desta vida, é como se Deus nos emprestasse o Seu coração, os Seus ouvidos e os Seus olhos. Com lágrimas e tudo
Uma Feliz e Santa Páscoa para todos, com uma dedicatória especial à minha leitora Fernanda.